Limpar e Brincar com as Palavras
Na turma do 1º C, de Condeixa, fizemos a leitura e exploração do Poema "Limpa Palavras", de Álvaro de Magalhães.
Depois, em trabalho de grupo, em que cada grupo era constituído por elementos do 1º e do 4º ano de escolaridade, os alunos, ao mesmo tempo que deram asas à sua imaginação e criatividade, "brincaram" com umas palavras e "limparam" outras.
Assim, de uma forma aparentemente lúdica e sem desgaste de entusiasmo e motivação os alunos usaram os seus conhecimentos linguísticos, reflectiram sobre a língua e continuaram a desenvolver as suas competências lexicais e linguísticas.
Agora, aqui deixamos alguns dos trabalhos obtidos, para além, de uma outra sugestão de trabalho e o próprio poema, para que o possam ler e reler e continuarem a deliciarem-se brincando e limpando estas e muitas outras palavras...Tantas quantas as que quiserem!
Então, eis as palavras que limpámos com ajuda de outras!...
Tristeza – Vou chamar a palavra palhaço que faz umas palhaçadas e transforma a tristeza em alegria!
Escuro – No meio do escuro procuro a palavra luz que traz a claridade.
Frio – Quando sinto frio vou agasalhar-me na palavra camisola!
Medo – Se sentir medo a palavra amigo faz-me companhia.
Perigo – Estou em perigo mas a palavra grito há-de trazer-me ajuda.
Desistir – A palavra ânimo ajuda-te a continuar.
Barulho – A palavra silêncio abafa o barulho e ajuda-me a pensar.
Pedra – Vou pegar na palavra martelo e transformá-la em grãos de areia.
Zangado – preciso da palavra sorriso para deixar de estar zangado.
Será que também consideram que estas palavras ficaram bem limpas?
Bom! Depois, de isto, fomos brincar com outras palavras.E, vejam lá o que construímos....
Palavras leves
Com a palavra pena ganho asas para voar.
A palavra sabonete faz-me deslizar…ai!
À palavra magro, sobra espaço ao seu lado.
A palavra cabelo faz-me calor no Verão.
Com a palavra lápis posso escrever.
A palavra formiga fez-me comichão na barriga! (Carlos e Jonibek, 4º ano)
Palavras pesadas
A palavra pedra é pesada.
A palavra melão…huummm...refresca-me no Verão!
A palavra elefante não tem nada de elegante.
Com a palavra baleia não há espaço à sua beira.
Atrás da palavra penedo vou-me esconder…ui, tenho medo!
(Márcia e Milena- 4º ano)
Palavras perfumadas
A palavra perfume deixa-me a cheirar bem!
A palavra alecrim perfuma o meu jardim.
A palavra doce sabe bem!
Comi a palavra bolo. Era delicioso! (João- 4º ano)
Palavras divertidas
A palavra caneca…ai, magoou-me a careca!
A palavra granada rebentou a almofada.
A palavra rolha enrolou-se na folha.
Pego na palavra panela e vou fazer o jantar nela!
(Nuno e Paulo – 4º ano)
Agora , aqui deixamos uma proposta, para que também tu, passes-algum-tempo a brincar com as palavras...Vais ver como é divertido!
Será que as palavras também têm coisas para nos dizer?
2- Vamos continuar a brincar com as palavras!
Imagina palavras que possam pertencer às seguintes categorias e regista-as aqui no nosso blogue.
Pesadas
Leves
Violentas
Perfumadas
Pequenas
Grandes
3-Como poderíamos fazer para tornar a palavra pedra mais leve?
Talvez pegar na palavra martelo e transforrná-la em grãos de areia da praia!...
Tenta tu transformar as seguintes palavras, de forma a ficarem diferentes, limpá-las…
Tristeza
Escuro
Frio
Agora...Pensa tu noutras palavras e faz o mesmo…E para te ajudar aqui fica o poema de, Álvaro Magalhães
LIMPA PALAVRAS
Limpo palavras.
Recolho-as à noite, por todo o lado:
a palavra bosque, a palavra casa, a palavra flor.
Trato delas durante o dia
enquanto sonho acordado.
A palavra solidão faz-me companhia.
Quase todas as palavras
precisam de ser limpas e acariciadas:
a palavra céu, a palavra nuvem, a palavra mar.
Algumas têm mesmo de ser lavadas,
é preciso raspar-lhes a sujidade dos dias
e do mau uso.
Muitas chegam doentes,
outras simplesmente gastas, estafadas,
dobradas pelo peso das coisas
que trazem às costas.
A palavra pedra pesa como uma pedra.
A palavra rosa espalha o perfume no ar.
A palavra árvore tem folhas, ramos altos.
Podes descansar à sombra dela.
A palavra gato espeta as unhas no tapete.
A palavra pássaro abre as asas para voar.
A palavra coração não pára de bater.
Ouve-se a palavra canção.
A palavra vento levanta os papéis no ar e
é preciso fechá-la na arrecadação.
No fim de tudo voltam os olhos para a luz
e vão para longe,
leves palavras voadoras
sem nada que as prenda à terra,
outra vez nascidas pela minha mão:
a palavra estrela, a palavra ilha, a palavra pão.
A palavra obrigado agradece-me.
As outras não.
A palavra adeus despede-se.
As outras já lá vão, belas palavras lisas
e lavadas como seixos do rio:
a palavra ciúme, a palavra raiva, a palavra frio.
Vão à procura de quem as queira dizer,
de mais palavras e de novos sentidos.
Basta estenderes a mão
para apanhares a palavra barco ou a palavra amor.
Limpo palavras.
A palavra búzio, a palavra lua, a palavra palavra.
Recolho-as à noite, trato delas durante o dia.
A palavra fogão cozinha o meu jantar.
A palavra brisa refresca-me.
A palavra solidão faz-me companhia.